65.6 km, 1182 metros de acumulado, 35° à sombra. Estes foram os ingredientes da etapa de hoje.
A alvorada de hoje foi um pouco antes das 8h, com muita relutância em nos levantarmos. Eu tinha o meu telemóvel a despertar às 7h30, mas graças aos fantásticos tampões para os ouvidos que trouxe, não ouvi nada. Felizmente que os nossos vizinhos já estavam acordados, caso contrário poderia ter sido motivo para um motim 🙂
Tomámos um pequeno almoço reforçado, com uns belos bocadillos de jamón serrano :).
Passados alguns quilómetros, surge o primeiro furo do dia. O Ricardo teve um furo na roda traseira que causou a primeira imobilização do dia. Felizmente, após umas quantas bombadas de ar, o pneu ficou ok, graças ao vedante.
Os primeiros trilhos de hoje foram fantásticos. Quase sempre a descer, mas sem muita inclinação, serpenteámos em trilhos estreitos em ziguezague, com imensas árvores, junto à um rio. A maior parte destes primeiros trilhos foi basicamente single tracks, o que nos trouxe de vez em quando alguma dificuldade atendendo ao facto de haver alguns peregrinos a pé nos trilhos. Com um pouco de vagar e respeito tudo se passou, ainda que muitas vezes os peregrinos a pé se juntem lado a lado mesmo nos caminhos mais largos, dificultando a passagem a quem vai de bicicleta. Tenho mesmo de tentar montar a campainha que trouxe comigo…
A uns quantos quilómetros de Pamplona optámos por não seguir pelo trilho original, dado que a sua parca largura, a quantidade de peregrinos a pé e ser em subida demoveu-nos dessa opção. Seguimos por um trilho alternativo para bicicletas, menos interessante mas mais ciclável. Tivemos alguma pena, porque o que realmente gostamos é de trilhos de terra, mas atendendo às circunstâncias foi a melhor opção.
Chegados a Pamplona por volta das 12h, resolvemos preparar o almoço de hoje. Comprámos umas baguettes generosas, presunto, queijo e… tomate. Não fizemos uma salada, mas o Óscar sugeriu uma iguaria que é tão simples mas ao mesmo tempo saborosa e que consiste em barrar literalmente o conteúdo do tomate no pão antes de colocar o resto. Feitas as compras, fomos refrescar-nos com uma bela cerveza con limón na Plaza Mayor de Pamplona. Aproveitámos também para mudar a câmara de ar da roda de trás da bicicleta do Óscar, altura em que descobrimos que as câmaras de ar que transportámos abaixo do espigão do selim estavam rotas por causa de arrastarem uma vez ou outra no pneu.
A viagem seguiu por trilhos mais inóspitos, em descampados pouco interessantes e sob um calor tórrido. Foi por esta altura que o Ricardo se adiantou um pouco. Eu seguia junto ao Óscar e quando alcançámos uma zona com algumas árvores e sombras, resolvemos parar, na expectativa de que o Ricardo voltaria para trás mais cedo ou mais tarde. Na realidade o Ricardo confundiu outro ciclista comigo, que seguia mais atrás, pensando que íamos atrás dele.
Enquanto esperávamos pelo Ricardo, travámos conhecimento com dois italianos que estavam a fazer o caminho com uma alemã. A italiana falava um castelhano perfeito, mas a moça alemã tinha de recorrer a um processo que, se me recordo bem, consistia em falar com os italianos. Em inglês, que por sua vez traduziram o que a alemã dissesse para inglês.
Passado algum tempo o Ricardo apareceu. Eu e o Óscar já tínhamos tratado de comer e o Ricardo rapidamente tratou do mesmo. Seguiu-se um repouso de cerca de 30 minutos (siesta no caso do Óscar) e depois de aí seguiu-se que a penosa subida até ao Alto del Perdón.
Felizmente o que sobe tem de descer e fomos prendados com umas descidas fantásticas e técnicas devido às imensas pedras soltas.
De resto o percurso foi relativamente acessível, com excepção das últimas 2 valentes subidas que numa delas me obrigou a descer da bicicleta e na outra o Óscar declarou oficialmente o fim da carga das suas pilhas de energia.
Estávamos nesta altura a menos de 4 quilómetros de Villatuerta (o nosso destino de hoje) e o Óscar decidiu não arriscar e seguiu ao nosso lado más por alcatrão.
Infelizmente a bateria do Android foi-se a meio do percurso, pelo que o tracking em tempo real não foi completo hoje. Esperemos que não suceda de novo.
Chegámos ao albergue., onde fomos fantasticamente recebidos. A proprietária do albergue é uma senhora brasileira que nos recebeu como se fôssemos aquela família que já não se vê há imenso tempo é sempre bom rever.
O albergue é fantástico, muito bem arranjado, um tanto ou quanto esotérico e que une o moderno com o tradicional de forma equilibrada.
O dia termina com uma fantástica refeição que o Ricardo preparou e que nos deixou mais que satisfeitos. Um pormenor caricato da refeição foi o facto de o dog alemão dos proprietários se ter juntado a nós, implorando por comida. O cão é certamente educado, pois agradeceu ao Ricardo com beijo quase digno da designação de “french kiss”.
E por hoje a reportagem termina, para descansar um pouco para a etapa de amanhã.

rumoasantiago.com

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5 Comentários

  1. Caríssimos!!!

    Excelente “report”, magnífica viagem 😀 Vão mantendo a malta informada 😉 E bebam umas “canãs” pela malta 😉

  2. Ahhhhhh…. que inveja (saudável) dessas fotografias!!! Fico contente por mais uma etapa ter corrido em boas condições e com o bom espírito de peregrinação em alto nível!

    Não pude deixar de associar a vossa passagem junto a essas figuras metálicas com o filme recomendado neste site “The Way”… verdadeiramente aconselhável!

    As “cervezas con limón” acentuam a saudade do “Camino”!

    Amigos… volto a repetir… Aproveitam e sigam a seta que Santiago de Compostela já esteve mais longe!!

    Grande abraço aos 3.
    João Valente

  3. 🙂 até agr, parece um iníciar da melhor forma, de uma mega aventura! Aproveitem bastante!
    Forças nessas pernocas! hehe

  4. bon camino pessoal!!!
    …. a parte da comunicaçao com outros peregrinos, tem sempre esses momentos de caricato! certa vez, cheguei ao ponto de tar com uma italiana com quem falava em ingles (eu nao falo italiano e ela nao fala portugues) e com uma espanhola q nao fala nada de ingles… ou seja, numa conversa com todos, o q respondia em ingles a uma, tinha de repetir em espanhol à outra ….

    … ou outra vez, em q uma alema fazia anos, em padron, e estava eu, tuga, a alema outra portuguesa e duas suiças … entao a alema, queria vinho branco gelado para festejar!!! chegou-se ao ponto de a alema, falar comigo em ingles, para que eu (portugues) pedisse vinho branco gelado em espanhol, ao galego do bar!!!!! ….

    .. a linguagem é algo de magnifico!!!!
    boas pedaladas!!!

  5. Boas boas… cerveza com limon… bocadillos… ahhhhh que saudades! Buen Camino!

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