E como tudo o que é bom, a nossa aventura chegou ao fim. Eram cerca de 18h00 locais quando entrámos na Praça do Obradoiro, na derradeira etapa da viagem que nos ocupou as mentes (e as pernas) nos últimos 11 dias.

Começámos o dia relativamente cedo, pois à semelhança do que se passa em todos os albergues, a maior parte dos peregrinos levanta-se sempre muito cedo. Como desta vez o nosso quarto estava praticamente cheio com jovens do mesmo grupo, levantaram-se todos ao mesmo tempo, por volta das 5h da manhã.

Virámos a cara para o outro lado e continuámos a dormir mais um pouco. Eram cerca de 7h45 quando o sentido de obrigação de nos levantarmos falou mais alto e começámos a preparar as coisas para a última etapa.

A manhã fazia-se sentir bem gelada, pelo que pela última vez recorremos aos casacos. No entanto mais tarde percebemos que não lhes iríamos dar muito uso, uma vez que ficámos “retidos” em Palas de Rei durante algum tempo.

Circulámos um pouco pela vila para procurar um supermercado, a fim de aviarmos as compras da manhã para um pequeno almoço económico. Parámos numa pequena praça, onde o Óscar tratou de ir dividindo a ração de bolo que tínhamos entretanto comprado. Pouco tempo depois somos surpreendidos por um grande grupo de freiras que transportavam mochilas às costas. Não deixou de ser uma cena curiosa, uma vez que não é algo que se veja todos os dias.

Foi nessa altura que o Ricardo se apercebeu mais uma vez que os travões da sua bicicleta continuavam a manifestar muito pouca eficácia (na realidade já praticamente que não travavam). O Óscar perguntou por uma loja de bicicletas, a que lhe deram umas indicações de um sítio a 500 metros de onde estávamos que poderia servir-nos de ajuda.

Quando chegámos à loja, ficámos com alguma dúvida se nos iriam ajudar, uma vez que não era uma loja especializada em bicicletas, mas sim em ferramentas mecânicas (moto-serras, máquinas de jardinagem, etc) e peças para automóveis. Contudo, as poucas bicicletas BH que estavam penduradas na montra deram-nos alguma réstia de esperança.

Fomos atendidos por um rapazinho muito novo, que se prontificou a tentar ajudar-nos da melhor forma. Recolheu a bicicleta para dentro da oficina e o primeiro diagnóstico mais exaustivo foi… falta de óleo no circuito. Este diagnóstico espantou-nos, dado que o mecânico de León tinha dado a entender que não seria esse o problema. A verdade é que, passadas cerca de duas horas, o Ricardo tinha finalmente travões minimamente decentes na bicicleta.

Saímos por volta das 11h30, um pouco apressados, uma vez que não contávamos com este pequeno precalço.

Voltámos a fazer imensos trilhos fantásticos, num constante sobe e desce “rompe piernas” tremendamente divertido. A ideia que ficou foi a de que estes trilhos merecem a pena serem feitos novamente, mesmo que não seja no âmbito do Caminho, pela qualidade e diversão dos mesmos.

O Caminho estava hoje “saturado” de pessoas. Estamos já muito próximos de Santiago e a quantidade de gente a circular no Caminho tem aumentado exponencialmente. A nossa sorte foi, quiçá, termos partido mais tarde do que o habitual, o que nos permitiu evitar as horas de maior enchente.

À semelhança dos últimos dias, eu fui acompanhando o Óscar no percurso e o Ricardo foi adiantando-se um pouco. Quando faltavam 27 quilómetros para Santiago, o Óscar já sentia alguma fraqueza que merecia ser compensada pela refeição do almoço. Decidimos, por isso, parar na povoação onde nos encontrávamos e comer qualquer coisa.

Fomos a um pequeno snack-bar onde o proprietário, muito engraçado e falador, nos aconselhou um chouriço típico da zona e com cujo produtor ou distribuidor já trabalha há cerca de 15 anos. A verdade é que esse chouriço frito dentro de uma bela baguette de pão galego, acompanhado por uma bela Estrella Galicia, soube-nos pela vida.

O Ricardo aguardava-nos 4 quilómetros mais adiante, pelo que nos reunimos de novo pouco tempo depois.

Continuámos pelo Caminho, num percurso sem grandes pormenores técnicos, que mais tarde deram lugar a caminhos semi alcatroados ao longo do aeroporto de Santiago de Compostela.

Por volta das 17h25 entrámos finalmente na cidade de Santiago, momento que ficou registado em fotografia junto à placa informativa com o nome da cidade. Nesse momento estavam três peregrinas a chegar a Santiago a pé, que nos informaram que tinham iniciado o Caminho também em Saint Jean Pied de Port, mas há 30 dias atrás.

Registada a foto, seguimos caminho até nos depararmos com uma rua que faz parte da entrada do Caminho Francês e que está barrada a bicicletas (pelo menos tem o sinal de trânsito proibido a bicicletas). Decidimos respeitar o sinal e contornámos a zona histórica da cidade pelo lado direito.

Depois de umas quantas voltas, acabámos por optar pelo ilícito e entrámos no centro através de alguns sentidos proibidos. Afinal de contas éramos peregrinos e estávamos convencidos de que a polícia teria alguma tolerância. E assim foi e ao fim de meia dúzia de curvas, estávamos na Praça!










9 Comentários

  1. Parabens. Fiz a viagem convosco embora não tenham notado. Reconheci alguns locais pelas fotografias. Quase que sentia o sabor dos bocadilhos que nesses momentos sabem pela vida.
    È uma sensação fantastica entrar na Praça do Obradoiro quase em estado de graça.Parece que á nossa volta há aureola de energia.
    Percorrer aqueles ultimos metros em silencio, mas em extase. Deixarmo-nos invadir pelos sons, pelo calor dos olhares desconhecidos, a troca de experiencias dos que tb estão a chegar, ou os curiosos que nos fazem perguntas. Deitar no centro da praça sem nos importarmos com a postura. E deixar que o Caminho circule no nosso Universo.

  2. Caros Confrades
    Faço minhas as palavras do João Paulo ele também homem de longo curso e grande mestre nestas andanças.
    Já me lembrei de fazer um grupo de gentes de longo curso e em autonomia mas que para entrar neste grupo terá de dar provas dadas. Por exemplo quais os restaurantes q visitaram hehehehhehe
    Parabéns pela vossa façanha.
    1 abraço e um queijo da serra
    Miguel K2 Sampaio

  3. Parabéns pelo feito.
    Há cerca de 1.5 meses, fiz o caminho Francês de León a Santiago, tendo reconhecido algumas paisagens por vós fotografadas! Já estou com saudades de o fazer outra vez, quem faz o Camiño uma vez, nunca mais o esquece, além de querer fazer sempre outro e outro e outro…..independentemente de qual. Já faço Camiños de Santiago à 5 Anos e mal posso esperar pelo próximo……..PARABÉNS mais uma vez………….Qui sá o próximo não será o Francês completo……

    Cumprimentos BTTistas
    Nuno Campos

  4. Axo q já disseram tudo :):):)

  5. Parabéns!
    Adorei as vossas crónicas!
    Apenas fico com vontade de embarcar numa aventura dessas…. algo que nunca fiz…

  6. Norberto, agora já refeitos do esforço peço-vos, ser não for abuso,o track de GPS do percurso . Bem sei que o caminho está bem marcado mas de qq forma dá sempre jeito.
    Um abraço.

    • João, terei todo o gosto em partilhar os tracks GPS de todas as etapas. Contudo, dado que há por ali uns segmentos que necessitam edição (ou porque ficaram baralhados por fraca recepção, ou por causa de voltas que demos a mais), terei de tratar esses pormenores antes de colocar os tracks online.

      De qualquer modo, os mapas do artigo “As Etapas” permitem o descarregamento dos tracks, basta ver no mapa maior e escolher o link KML (formato compatível com Google Earth, mas que pode ser convertido para outro formato qualquer usando, por exemplo, o GPS Babel).

  7. Amigos Peregrinos Parabéns!

    revi-me nas fotos e nos vossos comentários!
    Apercebi-me que optaram pelos alforges… qual o veredicto?! Eu pessoalmente, no fim, gostei!
    Entretanto, se me permitem, faço uma pequena critica, pelas descrições das etapas, apercebi-me que por vezes optaram pela estrada em detrimento dos trilhos dos peregrinos pedestres… se foi, meus amigos, dá (deu-me) um gozo tremendo fazer tal e qual o caminho dos pedestres… nomeadamente, na Cruz de Ferro,(mesmo com a estrada logo ali) e no Cebrero… entre outros… No entanto, adorei as descrições das etapas… sentia-me a pedalar cada metro… mt bom!!!
    Quanto ao travão, que tanta dor de cabeça deu ao Ricardo… tive uma vez um problema parecido, e era uma microfuga no tubo junto a uma ligação à zona dos pistons. Primeiro q acertasse… mtas horas testei de óleo…
    Amigos, muitos PARABÉNS!!!
    Abraço

    • Olá Carlos, muito obrigado pelo comentário!
      Na realidade optámos pelas mochilas, não sei se mencionou os alforges por engano.
      Para mim a mochila foi a opção mais feliz. Já começo a pensar na próxima travessia e a mochila é já ponto assente. Não sofri nem um pouco e levei tudo o que necessitava para os 11 dias de viagem.
      Quanto às opções por alcatrão, estou consigo, por mim não me teria afastado dos trilhos pedestres nem um metro. Mas nestas coisas considero que o espírito de grupo deve prevalecer e foram poucas as ocasiões em que me aventurei sozinho. Como em algumas ocasiões o cansaço se sobrepôs, ou o peso do conjunto do Óscar (que levou alforges) demoveu-nos dos trilhos e optámos pelo alcatrão.
      Seja como for, espero voltar a ter a oportunidade de fazer o caminho francês novamente e à segunda vez não me perdoarei se não fizer os trilhos todos 🙂

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