Depois de fazer o setup adequado à minha fisionomia, chegou a altura de fazer o primeiro test-drive à Canyon Lux MR 9.0 SL de que vou dispor para fazer a travessia do Caminho Francês de Santiago.
A bicicleta que me tem acompanhado nos trilhos desde Fevereiro de 2008 é uma Canyon Nerve AM 6.0. Esse é o modelo com o qual me identifico, quer pela geometria que proporciona uma condução mais descontraída, quer pelo curso longo que tanto a suspensão como o amortecedor têm e que permitem ultrapassar obstáculos mais técnicos. Como era costume ouvir num programa de TV que passou há relativamente pouco tempo, o All Mountain é mesmo “a minha praia”.
A Lux MR apresenta-se quase como uma antítese disso. A sua geometria é claramente muito mais desportiva, com um slope do tubo superior muito menos acentuado. O guiador sem sobre-elevação torna as mudanças de direcção mais “nervosas” e a posição de condução é completamente virada para a performance, obrigando-nos a inclinarmo-nos para a frente, quase ao estilo de uma bicicleta de estrada.
Esteticamente a bicicleta é muito bonita. A combinação das cores garridas dos cubos e alguns acessórios com o preto e branco sóbrios do quadro resultam num conjunto muito apelativo. O único pormenor que apreciei menos foi o acabamento da fibra de carbono, pois estava à espera de algo mais imperceptível. Contudo, como os meus companheiros de BTT depressa me corrigiram, essa é a parte que mais se aprecia numa bicicleta destas, pelo que eu diria que é mais “esquisitice” minha :).
O test-drive consistiu num percurso de cerca de 34 quilómetros composto por diversos tipos de terreno e níveis de tecnicidade. E a experiência não podia ser mais satisfatória: a Lux MR comportou-se à altura em todo o percurso, mesmo tendo em conta o receio normal que um primeiro contacto implica.
O que me impressionou verdadeiramente foi a capacidade que este modelo tem para proporcionar acelerações dignas de Formula 1 das duas rodas a pedais. O peso ultra-leve da bicicleta (9.7kg com o equipamento de origem, sem pedais) faz toda a diferença e mesmo para alguém que não tem a forma física super apurada (que é o meu caso), é impressionante pedalar nesta bicicleta, seja em plano ou a subir.
A transmissão de 2×10 velocidades cria alguma confusão para quem está habituado às típicas 3×9. É certo que as 7 relações a menos simplificam a gestão das mudanças, mas por outro lado há uma certa tendência a cruzar mais a corrente porque temos menos tendência a trocar o prato engrenado. Não tive oportunidade de constatar se se sente a falta de uma maior desmultiplicação para ultrapassar subidas mais íngremes, mas espero ter oportunidade para verificar isso brevemente (mais que não seja na primeira etapa do Caminho, quando subirmos os Pirenéus).
Os travões Avid XX são fantásticos. A bicicleta vem equipada com discos de 185 e 160mm à frente e atrás, respectivamente. A potência da travagem é absolutamente fenomenal, a força é instantânea e faz-se sentir. Falta talvez alguma progressividade, dado que numa primeira análise os travões “sofrem” daquilo que eu chamo de “efeito on-off”, embora isso se contorne facilmente com o hábito. Não testei a resistência à fadiga, dado que o percurso não proporcionou essa oportunidade. Em relação à fiabilidade, não posso dizer nada com tão poucos quilómetros, mas após os 800km do Caminho, terei oportunidade de discutir um pouco mais essa questão.
Os pneus Schwalbe Rocket Ron 2.10 que equipam esta bicicleta são bastante rolantes, não obstante a sua medida um pouco acima do normal para bicicletas de maratona. Notei alguma falta de tracção na roda traseira em algumas partes do percurso em terra, mas tal poderá dever-se ao gasto já considerável que o pneu já exibe.
Relativamente à suspensão (RockShox SID XX WorldCup 100mm), não há nada a apontar. Absorve facilmente qualquer irregularidade do terreno e o controlo remoto hidráulico do bloqueio é muito prático de utilizar e útil quando enfrentamos oscilações frequentes do tipo de terreno em que circulamos. Não são os 140mm a que estou habituado na minha AM, mas cumprem bem a sua função.
Quanto ao amortecedor (RockShox Monarch RT3), confesso que tive alguma dificuldade no início para usar o mecanismo de bloqueio. Isso talvez seja fruto de um ajuste menos adequado da pressão do amortecedor, dado que mesmo na posição aberta, creio que o amortecimento não está tão suave como eu desejaria. Vou precisar de mais alguns testes para ir afinando o amortecedor aos poucos.
A título de conclusão, só posso dizer que esta bicicleta é fantástica. Mesmo tendo em conta que a minha condução favorita recai mais sobre modelos all-mountain, a verdade é que fiquei ansioso pela próxima volta de BTT, para experimentar mais as potencialidades da Lux MR. Quando se circula com esta bicicleta, esquecem-se as preferências em termos de condução e só queremos é mais e mais quilómetros para os devorar assoberbadamente.
Finalmente, aproveito para referir que esta bicicleta em particular (tamanho 18.5″) estará disponível para venda através da Canyon Portugal a partir de meados de Agosto, com um desconto de 20% sobre o valor que consta no website. Pode ser uma boa oportunidade para quem procura uma máquina de topo por um preço bastante acessível, tendo em conta o conjunto em causa.