Eram pouco mais do que 6h da manhã quando começámos a tomar o pequeno almoço. A etapa do dia anterior ainda estava bem presente no corpo e a vontade era, na realidade, a de adiar o regresso por mais umas horas, tal era o sono. Contudo, como não havia como contornar a necessidade de nos fazermos às quase duas centenas de quilómetros que tínhamos pela frente, logo que tínhamos o pequeno almoço tomado metemos mochilas às costas, preparámos as bicicletas e demos início à viagem, não sem antes nos despedirmos da Marta, que fez parte do grupo que nos acompanhou desde a nossa terceira etapa e que também fez o Epílogo Muxia-Fisterra.
Fizemos uma última passagem pela Praça do Obradoiro, para contemplar uma última vez a Catedral de Santiago de Compostela. Depois de um ou outro arrepio (parte de emoção, parte do fresco da manhã 🙂 ), começámos a nossa jornada.
O regresso fez-se pelo Caminho Português de Santiago, percorrido na direcção inversa. Para o Frazão todo o caminho foi uma novidade, mas para mim foi um pouco de flashback a recordar a minha primeira incursão nos Caminhos de Santiago que ocorreu em 2010.
A ideia que tinha do Caminho Português era um pouco diferente daquilo que (re)encontrei. Embora haja bastantes troços de caminho de terra, encontrámos mais alcatrão e percursos urbanos do que aqueles de que me recordava. Há zonas que são mesmo muito aborrecidas, como a zona industrial de O Porriño, que mais parece que nunca acaba.
Tínhamos preparadas 3 paragens para alimentação. Cerca de 5 quilómetros após a primeira paragem, o sono pós-almoço atacou de tal forma que tivemos de parar junto a uma fonte para descansar um pouco. A ideia era descansar apenas 5 minutos, mas esses 5 minutos depressa se transformaram em uma hora. Despertados pelo som do flash de peregrinos que nos fotografaram :), voltámos às bicicletas para continuar o Caminho.
A chegada a Valença aconteceu por volta das 18h30. A entrada em Portugal fez-se sentir de imediato, não pela placa informativa, mas sim pela falta de civismo dos condutores. Por incrível que pareça, mesmo mediante a reputação que os condutores espanhóis têm, a verdade é que em todos os trajectos de alcatrão por onde passámos o respeito pelos ciclistas é absoluto. Logo que entrámos em Portugal, passámos a ser ultrapassados “de fininho” por praticamente todos os veículos que se depararam connosco. Lamentamos imenso constatar este fenómeno.
Com o avançado da hora, decidimos que iríamos dar prevalência à rota por estrada em detrimento do percurso por caminho. Seguimos, por isso, a N13 e posteriormente a N201 até Ponte de Lima.
A subida que antecede Ponte de Lima foi exasperante, com uma subida contínua para transpor. O factor psicológico foi o mais importante nesta fase, pois a luz solar estava praticamente a extinguir-se.
Quando chegámos a Ponte de Lima, a noite já tinha caído. Faltavam nesse momento 21 quilómetros para o Albergue de Tamel São Pedro Fins (o nosso ponto final) e tínhamos de tomar uma decisão: dar encerrada a viagem por ali, ou arriscar o resto da viagem pelo escuro da noite. Como eu tinha uma pequena luz de LED (que usei durante a viagem como luz auxiliar à noite, nos albergues), optámos por pendurá-la na bolsa de selim em modo intermitente, para que quem nos antecedesse nos conseguisse ver.
Como a estrada entre Ponte de Lima e Tamel São Pedro Fins é relativamente bem iluminada (à exceção de um ou outro troço, onde reina a escuridão total), não tivemos problemas de maior. É certo que estes últimos quilómetros exigiram alguma loucura e, de certo modo, um pouco de irresponsabilidade que, noutra situação, nunca a teríamos cometido. O facto de desistir a uns meros 20 quilómetros do destino levou-nos a não querer “morrer na praia” e a verdade é que por volta das 23h, depois de 12h de pedaladas (a que se somam mais de 4 horas de tempo parado, ou a caminhar), estávamos no albergue de Tamel a colocar o último carimbo nas nossas credenciais.

Terminou assim a nossa grande viagem deste ano. A sensação que fica é a de saber a pouco. O espírito que se vive no Caminho é contagiante e a saudável rotina de levantar pela manhã, pegar na bicicleta, fazermo-nos ao Caminho e pedalar durante o dia inteiro impregna-se de tal modo que é impossível resistir ao ímpeto de querer mais.
Mas com o fim de um Caminho, há-de sempre vir um outro novo Caminho para fazer. Qual vai ser o próximo? Tendo em conta a ideia de fazer as grandes distâncias, o Caminho do Levante parece-nos um sério candidato a uma futura edição do projeto Rumo a Santiago. Este Caminho permitir-nos-á revisitar as duas coisas que mais apreciei na Via de la Plata (à qual o Caminho do Levante se junta em Zamora): o albergue de Zamora (com os hospitaleiros mais simpáticos que alguma vez conheci em todos os Caminhos que já fiz) e a Via Sanabresa, que será, porventura, o mais belo Caminho que fiz.
A incógnita é mesmo o QUANDO. Este ano há mais incertezas em relação ao futuro, mas uma coisa é certa, o projeto Rumo a Santiago não termina aqui, nem a vontade e a intenção de ter mais Caminhos de Santiago no currículo.
Até lá, desejamos Bom Caminho a todos vós, agradecendo de forma encarecida a todos os que nos acompanharam ao longos dos 17 dias da nossa viagem. A todos um bem haja!

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