Depois de 13 dias a pedalar em direcção a Santiago de Compostela, hoje foi o dia de iniciarmos a segunda fase da nossa viagem, no Epílogo Muxia – Fisterra.
Com os 85 quilómetros à nossa espera e os habituais mais de 2000 metros de acumulado, o despertar ocorreu às 6h30.
Feitas as despedidas dos nossos amigos italianos ao pequeno almoço (que iriam seguir para Irun em autocarro nessa manhã e posteriormente para Itália de carro no dia seguinte), pegámos nas bicicletas e iniciámos o Caminho em direcção a Muxia.
Este caminho é, na realidade, de uma grande beleza. Uma boa parte do percurso atravessa bosque, com piso irregular cheio de pedra e raízes, técnico como se gosta.
Pelo caminho houve tempo para parar numa antiga ponte romana, onde uma cascata de água mostrava a força da mãe natureza.
Hoje conseguimos imprimir um ritmo mais constante na viagem, sem grandes paragens para descansar.
Como Santiago já estava atrás no nosso itinerário, foi como se parte da força que nos ajudou a pedalar em todas as etapas para trás (algumas mesmo bem duras) estivesse debilitada. O cansaço físico acumulado junto com noites relativamente curtas começam a cobrar o custo neste momento.
A zona que atravessámos é essencialmente rural, afastada de centros urbanos. Também nos deparámos com esse cenário em outras zonas do Caminho, mas há algo de diferente por aqui: nota-se que o povo galego é bastante mais fechado e desconfiado. Por aqui, se não tomamos a iniciativa de cumprimentar as gentes, é raro que nos cumprimentem. Talvez também o facto de não haver tanta gente a percorrer este caminho motive esse desligar.
Os primeiros 70 quilómetros são comuns ao trajecto até Fisterra. Ao longo desta secção do percurso vimos bastantes peregrinos a pé, pelo que tudo indica que Fisterra será um destino bem concorrido.
Fizemos uma paragem para comer numa pequena povoação. A senhora idosa que estava ao balcão enumerou o que havia disponível para comer, a uma velocidade estonteante e num galego muito pouco perceptível. À terceira vez que pedimos para repetir a ementa, conseguimos discernir algumas coisas, de onde escolhemos uma saborosa tortilla de batata, que nos garantiu a senhora que estaria pronta em 15 minutos. O tempo deve mesmo passar mais devagar nestas bandas, pois ficámos com a ideia de termos esperado pelo menos 30 minutos pela refeição.
Trocámos algumas impressões com um senhor que cremos ser filho da senhora que nos atendeu. É um senhor muito peculiar, sempre a introduzir no discurso frases de sabedoria popular enquanto nos ia explicando alguns dos detalhes do Caminho entre Muxia e Fisterra. Finda a refeição, seguimos viagem.
A chegada a Muxia é muito bonita. Ao longe avista-se a povoação e o mar que banha a localidade. Depois de subir até ao último pico do dia, temos uma descida muito interessante, num trilho por entre árvores, cheio de folhas caídas no chão.
Alcançámos a cota mais baixa do dia em pouco tempo, onde o Caminho nos levou por uma plataforma de madeira de cerca de 500 metros até à avenida principal da localidade.
Seguindo as instruções do gps, chegámos finalmente ao albergue municipal, onde encontrámos um papel com a inscrição “completo”. Ainda assim procurámos o hospitaleiro para ver se haveria forma de conseguirmos ter lugar, pois o único albergue privado da zona já estava cheio e a opção por pensões e algo do género não nos agrada. Felizmente o hospitaleiro informou-nos de alguns lugares que o albergue tem disponíveis para incapacitados (que, em bom rigor, em nada diferem dos demais, tirando o facto de estarem no piso térreo). Com uma disponibilidade mesmo à justa, parece-nos que Santiago intercedeu por nós hoje :).
Com o albergue a encerrar às 22 horas, o pouco tempo que sobrou após o duche foi para comprar algo para comer ao jantar e voltar ao albergue.
Com o cansaço no corpo, o descanso veio rápido e demos por terminada mais uma etapa.
O sábado será de relaxe, com apenas 30 quilómetros para fazer até Fisterra. Vamos aproveitar para visitar Muxia antes de partirmos, pois segundo parece, é fim de semana de festa por cá.

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