Hoje foi um dia especial: o amigo Frazão celebra hoje 33 anos!
A noite foi bem passada, pois o albergue em que ficámos (albergue municipal de Galisteo) é dos que tem mais condições dentro daqueles a que já recorremos, considerando o preço, conforto da cama e térmico, bem como o ruído exterior. Acordámos por volta das 6h30 e calmamente começámos a arrumar as nossas coisas. Pouco tempo depois, o Keith (amigo escocês que vive neste momento na Irlanda) também despertou. Tomámos o pequeno almoço que nos tinha sido preparado na véspera pela hospitaleira e o Frazão tratou posteriormente da lavagem das nossas bicicletas (o albergue tem à disposição uma mangueira no terraço exterior).
Antes de partirmos ainda houve tempo para trocarmos umas palavras com o Keith, que iria partir do albergue um pouco mais tarde para fazer apenas 11 quilómetros hoje.
Já tínhamos conversado no dia anterior sobre o projecto Rumo a Santiago, mas fiquei completamente sem palavras quando ao nos despedimos o Keith me passou 10 euros para a mão como contribuição para a campanha que estamos a promover para beneficiar a Associação Acreditar. Aliás, já tinha sucedido algo semelhante em Mérida, quando um dos elementos da equipa de 3 portugueses que também estão a fazer a Via de la Plata em bicicleta fez um donativo sem sequer termos trocado palavras antes (reconheceram o projecto). É incrível como a ajuda chega vinda de pessoas que simplesmente não conhecemos, principalmente quando tem sido tão difícil motivar amigos e conhecidos que nos são bem mais próximos.
A paisagem de hoje foi deslumbrantemente diferente de tudo o que já vimos até agora. A paisagem inóspita foi trocada por verdejantes pastos e por bosques de azinheiras. Os trilhos também foram muito diferentes. Se ontem reinavam os estradões repletos de pedra solta, hoje eram os single tracks serpenteando que preponderaram.
O percurso de hoje também nos reservou uma surpresa histórica: passámos por umas escavações arqueológicas onde se pode ver parte da antiga calçada romana e os restos do que seria uma antiga cidade. O estado de preservação destas ruínas é impressionante e foi uma boa oportunidade para espreitar o passado.
Os trilhos passaram também a ter marcações melhoradas. Ainda que haja um ou outro lugar sem marcação que podem dar azo a dúvidas, seguir os marcos que identificam a antiga calçada romana (sempre os marcados com um rectângulo amarelo) é praticamente suficiente para não nos perdermos.
Como partimos cedo e rolámos sempre a bom ritmo, só fizemos a nossa paragem para almoço aos 50 quilómetros, em Aldeanueva del Camino. Foi preciso entrar em 3 lugares diferentes para encontrar pão. Infelizmente, o pão que encontramos à disposição continua a ser terrivelmente mau, muito seco e duro (bem pior que qualquer pão pré congelado que podemos comprar em Portugal).
Depois de um almoço reforçado, foi hora do descanso… para o Frazão, já que eu acabei por usar o período de descanso para fazer uns contactos de maneira a providenciar o cabo micro USB OTG que tanta falta faz para partilharmos as fotos convosco. Tem sido uma odisseia tecnológica (como o Frazão a apelida) :).
Seguimos viagem, numa primeira parte relativamente plana (a subir e a descer), predominantemente em alcatrão. Foi mais tarde que chegámos ao desafio físico do dia, numa subida extremamente inclinada em piso empedrado (ao género de calçada romana, mas com pedra trabalhada de forma moderna) é pontualmente atravessada por um degrau. Fomos depois recompensados com uma bela descida até cerca de 2 quilómetros do nosso destino.
Os últimos 2 quilómetros foram um pouco sofridos, com um trilho em subida pejado de grandes pedras alisadas talvez pelas águas de Inverno.
Chegámos ao albergue Alba y Soraya, onde fomos alegremente recebidos pela proprietária. O albergue está instalado no que parece ser uma antiga casa rural e o tratamento não podia ser mais caseiro. A senhora preparou -nos uma deliciosa refeição que nos fez sentir praticamente em casa. O facto de estarmos sentados à mesa na sala da casa enquanto conversávamos com o marido da senhora ainda deu mais ênfase à esse detalhe.
Tivemos também oportunidade de conversar um pouco com um peregrino belga que está hospedado no nosso albergue desde ontem. Ficámos impressionados com o espírito autónomo dele, dado que algumas das noites da sua caminhada foram passadas, por opção, no meio do campo.
Como a aldeia onde estamos é mesmo muito pequena e isolada (tem cerca de 40 residentes permanentes), não conseguimos comprar um bolo à altura da celebração de hoje. Contudo não nos demos por vencidos e com a aplicação certa para Android lá conseguimos improvisar uma chama para cantarmos os parabéns ao Frazão :).
E com essa pequena celebração e uma curta caminhada para digerir o jantar, chegou o momento de mais um repouso. Amanhã iremos pedalar tendo como destino a cidade de Salamanca e alcançaremos a meta de metade dos quilómetros da nossa viagem.

Bom Caminho!

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