Se o dia de ontem tinha sido divertido, o de hoje foi fantástico. O perfil da etapa anunciava um par de subidas que iriam oferecer alguma resistência quer pela inclinação quer pela extensão.

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Tomámos o pequeno almoço no dia albergue. A gula no dia anterior por altura das compras tinha sido grande e tivemos a audácia de comprar uma bela empanada de carne de vitela com a ideia de a comer ao pequeno almoço. A verdade é que pareceu-nos uma ideia mais feliz no dia anterior, mas como entre o pão que tínhamos para sanduíches e a empanada o pão era o que mais se adequava para ir na mochila, fizemos o gosto ao dente e tratámos da empanada.
Às 8h00 já só restávamos nós, um grupo de 3 rapazes bicigrinos e um jovem casal que também está a fazer o caminho em bicicleta. Os restantes peregrinos já tinham saído de madrugada.

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A primeira parte do percurso consistiu em subida pela serra em alcatrão. A vista proporcionada por este percurso é sensacional, com montanhas a toda a volta. Pelo caminho fomos atravessando pequenos agrupamentos de casas, onde observámos uma técnica peculiar de forrar as paredes das casas com pequenos “azulejos” de xisto.

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A queda que o Frazão tem pela engenharia levou-nos também a observar uma intervenção que estava a ser feita na linha de comboio perto de onde nos encontrávamos.

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Depois de qualquer subida há sempre uma grande descida. Prova disso foi a primeira descida que fizemos em alcatrão, onde o velocímetro do GPS chegou a marcar os 67 km/h.

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A segunda grande (diria mesmo vertiginosa) foi a descida até Campobecerros. Trata-se de uma descida bastante técnica, com muitas lajes de xisto, exigindo uma condução elaborada e bons reflexos. Na descida passámos por alguns dos peregrinos que tinham ficado no mesmo albergue que nós, incluindo um senhor com os seus sessenta e muitos anos de idade e com um portfolio de caminhos realizados impressionante e com quem tive uma conversa muito interessante no serão da noite anterior.

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A passagem por Laza por volta das 11h30 resultou numa paragem de cerca de hora e meia para tomar uma bebida fresca e por alguns assuntos de Internet em dia. Como as etapas que estamos a fazer, embora duras, estejam a revelar-se mais fáceis que o previsto, vamos aproveitando para relaxar um pouco mais nestas etapas finais.

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A segunda parte do dia foi o ponto mais exigente do dia. A subida desde Tamicelas até Albergueria foi bastante dura, com alguns quilómetros a empurrar a bicicleta pelo meio de rochas e depois a pedalar nas relações mais curtas encosta acima.

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Desde o segundo ponto mais alto até a Vilar do Barrio foi um instante, por meio de uns single tracks bem rápidos.

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Hoje foi também dia de por à prova os dotes de costura do Frazão. Os calções dele já andavam a ameaçar ficarem com um comprimento indecente numa das pernas, pelo que no serão de ontem houve tempo para algum trabalho de linha e agulha. A julgar pelo resultado, ainda bem que o Frazão se dedicou à engenharia e não a medicina de cirurgia :).
O albergue de hoje é uma espécie de luxo no meio dos albergues da zona. Foi renovado em 2008 e está praticamente novo. Segundo a hospitaleira, são poucos os peregrinos que aqui param e os que o fazem são essencialmente ciclistas (cá estamos nós a confirmar a regra). Não está mais ninguém no albergue, pelo que hoje somos reis e senhores disto. Pena o facto de aqui ao lado estar uma casa municipal que os jovens filhos de emigrantes (que estão na localidade por férias) frequentam e segundo parece, provocam desacatos.
Não havia mais ninguém no albergue, por isso tivemos as instalações só para nós. Depois do banho e de algum descanso, fomos procurar o restaurante que a hospitaleira nos recomendou. Era suposto ficar ali mesmo ao lado do albergue, mas por mais voltas que déssemos, não o encontrávamos. Após um telefonema à hospitaleira para confirmar o local do restaurante, percebemos que a entrada do mesmo é muito discreta e desprovida de sinalética a anunciar o restaurante.
Por volta das 20h fomos então tratar do jantar. Assim que entrámos no estabelecimento, ficámos logo de pé atrás. Trata-se de uma espécie de café antigo, um género de tasca. Não havia ninguém na sala, apenas indícios de que estaria alguém na divisão contígua que parecia uma cozinha. Ao fundo da sala (que é a única divisão) estava uma gaiola com um periquito que de início não sabíamos se era embalsamado ou se vivo (depois lá se mexeu, dissipando as nossas dúvidas). As mesas tinham um tampo feito de mármore recortada toscamente, com uns pés feitos de metal forjado. Para rematar, sentia-se um certo odor a mofo no ar, provavelmente do soalho de tábuas. Estava desenhado o cenário do que poderia ser a refeição menos acertada da viagem. Não podíamos estar mais enganados!

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Rapidamente fomos recebidos por uma encantadora senhora, com os seus talvez 80 anos. Perguntámos pelo menú, a que nos respondeu que nos cozinharia o que quiséssemos. Após falarmos sobre algumas das hipóteses, e sabendo a senhora que éramos portugueses, sugeriu o típico prato luso: bife de vitela com ovo estrelado e batatas (o famoso prego no pão). Para o primeiro prato, preparou-nos uma abastada travessa de enchidos (alguns caseiros) é queijo. Que maravilha de enchidos!
A verdade é que comemos muito bem, a carne estava deliciosa e tenra, a quantidade acima da média e o preço mais que aceitável.

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Carimbámos a nossa credencial pela primeira vez num restaurante, porque foi um marco da nossa viagem. Despedimo-nos da senhora Carmiña e fomos directos para o albergue para descansar.

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A etapa desta quarta feira vai ser um misto de percurso rolante com uma ou outra subida. De Ourense a Cea será quase sempre a subir, pelo que vamos aproveitar a passagem por Ourense para descansar um pouco.

A viagem está quase no fim e as crónicas diárias também. Não se esqueçam de que podem sempre acompanhar a nossa viagem em www.rumoasantiago.com/viadelaplata, incluindo um mapa que mostra onde estamos e onde estivemos durante toda a travessia.

Amanhã há mais e até lá, Bom Caminho!r

5 Comentários

  1. Que bela aventura a deste dia. E o jantar então… mesmo como o português gosta! Fiquei “babada” a olhar para o prato de enchidos.

  2. Imagino que amanhã seja o momento “especial” da chegada à “Praza do Obradoiro”… Que mantenham o entusiasmo de sempre, que conhecemos já dos textos e da forma como o Norberto sempre fala do Caminho e que nos motiva para o fazermos… Força companheiros! 🙂

    • Ui aquela descida de xisto é técnica sim mas soube bem depois de tanto subir,:)
      Boa comidinha não vos faltou nesta etapa, 😀 bem merecem sim senhor.
      As nossas etapas estão a ser atualizadas em http://www.porcaminhosdomundo.blogspot.com, e à medida que vamos posando a saudade do caminho e dos dias aumentam. Desfrutem, buen camino 🙂

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