Etapa 7 – sempre a descer… Exceto nas subidas

Colocado em 12 de Junho, 2018 | 2 comentários

Hoje foi o sétimo dia de viagem. A rotina habitual de arrumar a mochila, pedalar, chegar, comer e descansar já se instalou. Os dias a pedalar já são o normal!

O despertar foi às 6 horas da manhã. Com uma noite tão bem dormida, não resisti a mais uns minutos na cama até ganhar coragem para me levantar. A mochila estava praticamente pronta, pelo que foi o tempo de preparar os víveres do costume.

O céu estava estranhamente limpo, sem uma única nuvem. Não obstante o facto de até ter tido sempre tempo impecável até ao momento, a verdade é que o céu tem estado sempre bastante nublado.

Com o céu assim tão limpo, a manhã estava muito fria. O corta vento e os manguitos acompanharam-me vestidos até ao meio dia e mesmo aí quase que se toleravam.

A marcação do Caminho começa a deixar muito a desejar. Por diversas vezes que deixei de ver setas e só mesmo o facto de trazer um GPS comigo me valeu em diversas ocasiões.

A passagem por Hinojosa del Duque deu-se a cerca de 1h40 de viagem. Esta localidade seria a de destino dos peregrinos a pé que pernoitaram no mesmo albergue que eu, pelo que se percebe que a dificuldade dos trilhos de hoje foi praticamente nenhuma.

Uns 8 quilómetros depois de Hinojosa del Duque vejo um sinal de alterna de bicicleta. Tudo apontava para que o Caminho normal seria um simples caminho de terra, pelo que resolvi arriscar e seguir em frente em vez de virar à direita pela alternativa de bicicleta.

A decisão pareceu a mais acertada até que cheguei ao que seria um antigo apeadeiro junto à linha de comboio. Aí, logo após a linha, o trilho segue uns 800 metros numa zona de erva alta (acima da cintura), pouco batida, que justifica de facto a alternativa, além de que o tipo de solo argiloso do caminho que tomei logo no sinal leva a crer que é muito complicado no tempo de chuva. Por isso se virem este sinal, digam pela estrada.

Pouco tempo depois outra decisão a tomar: o percurso marcado serpenteia numa zona de terreno privado (vedado e com portão de acesso) e embora a via pela estrada não esteja identificada como alternativa, pouparia alguma dor de cabeça. Além disso o track gps denunciava uma travessia de um rio relativamente largo e a imagem de satélite não parecia incluir uma ponte nesse local. Mais uma vez segui em frente pelo Caminho, para na verdade ter mais tarde de atravessar o rio com os pés totalmente imersos na água e para depois andar uns quilómetros dentro da propriedade na dúvida se me iria deparar com gado bovino (já que as evidências da sua passagem recorrente pelo caminho estavam por todo o lado). Felizmente cheguei ao fim da propriedade sem encontros de primeiro grau.

Lá acabei por chegar a Monterrubio de la Serena, também ponto típico de fim de etapa pedestre. Pela hora aproveitei para almoçar e secar um pouco as meias e os sapatos.

Foi ainda nesta local que dei uma “flash interview” :). Em Espanha existe muito o conceito de TV local e andavam dois jovens pela zona de microfone e câmara na mão. Pediram-me para responder a algumas perguntas sobre a minha passagem pela localidade e ficou assim registada a travessia de 2018 nos arquivos desta TV :).

Castuera foi a localidade que se seguiu, também ela um típico fim de etapa pedestre. E foi esta ligação entre Monterrubio e Castuera que me deixou a pensar se teria carregado um track específico para bicicleta para esta ligação, ou se de facto aquele é o Caminho normal. É que não só a marcação era bastante deficitária (embora se vissem setas de vez em quando), é um trajeto constituído por alcatrão em 95% da sua extensão (entre nacionais e caminhos rurais alcatroados). Definitivamente uma etapa complicada para quem faz o Caminho a pé.

Entretanto aconteceu uma troca de comunidade: para trás ficou Andaluzia e a Extremadura deu as boas vindas.

Faltava só mais uma localidade para dar a etapa de hoje por concluída. A chegada a Campanario também não teve muito de realce, com um percurso de estradão e caminhos em bom estado geral. E como ainda era relativamente cedo e também porque me senti apto para tal, resolvi somar mais 22 quilómetros à etapa de hoje e seguir até La Haba.

Pela altimetria era claro que não haveria grande dificuldade, à exceção de um ponto em particular onde o gráfico sobe praticamente na vertical. Trata-se da subida a Magacela, que fica num alto de um monte. Curiosamente o meu pensamento quando vi o monte ao longe foi “que localidade tão lá no alto, felizmente não tenho de passar por lá”. Muito enganado estava eu 🙂

Mas tudo o que sobe também desce. De Magacela até La Haba percorremos uns trilhos pejados de pedra, o que exigiu cuidados redobrados. Os últimos 3 ou 4 quilómetros já acontecem em alcatrão.

A estadia é no albergue municipal. É um luxo de albergue, com imenso espaço e condições (foi inaugurado no ano passado). Valeu mesmo a pena o esforço e os 115 quilómetros totais da etapa de hoje foram assim recompensados.

Amanhã chego finalmente à Via de la Plata. Com estes quilómetros adicionais de hoje passo a ter uma etapa de amanhã um pouco mais acessível. Vamos ver se tudo corre bem.

Bom Caminho!


2 Comentários

  1. Por vezes dá-me saudades do Caminho.. depois vejo fotos dessas rectas intermináveis e do calor que parece fazer e vêm-me memórias sensoriais instantâneas… já passou a vontade 😀
    Ehehe 🙂
    Continuação de um Bom Caminho!!

    • 🙂 o calor até ver tem dado tréguas. Diria que está o tempo perfeito para fazer o Caminho.
      Já as retas intermináveis são um facto. Já de bicicleta por vezes o pensamento é “isto nunca mais acaba”, a pé será muito mais difícil ultrapassar estas retas.

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