Etapa 16 – Bracara Augusta 

Posted on 25 de June, 2017 | 2 comments

Sábado, 24 de Junho

E eis que 16 dias depois de começar esta odisseia, volto a ver a minha cidade atual.

O plano para esta última etapa era ambicioso: percorrer os 192 quilómetros que separam Santiago de Compostela de Braga por Caminho, num só dia. Esta experiência já tinha sucedido anteriormente em 2013 (na altura até Barcelos) e em 2016 (até Braga).

O trajeto coincidiu em quase toda a sua extensão com o Caminho Central Português até Ponte de Lima, sendo que as partir daí até Braga foi a vez de tomar o Caminho de Torres (ou a Via XIX romana, como também é designado este trajeto). Ficou de parte a subida (e respetiva descida) à serra da Labruja, não só pelo tempo adicional que isso implicaria mas também pela parca / inexistente ciclabilidade desta parte do Caminho.

Tal como planeado, saí de Santiago às 5h da manhã. A noite não foi propriamente de descanso, pois para além dos festejos de São João (com fogo de artifício e afins), há sempre quem cometa abusos na noite em que se chega a Santiago e nessa noite não houve exceção… Eram 2h30 da madrugada quando acordei fruto dos desacatos que uns “peregrinos” italianos fizeram ao entrar no albergue e daí até às 3h30 (hora da alvorada) já não deu para descansar muito.

Os primeiros 20-25 quilómetros até Padrón foram fáceis de fazer. O tempo fresco (bem mais que nos restantes dias, que até obrigou a usar corta vento), bem como o perfil de tendência a descer, garantiu alguma celeridade.

A primeira paragem aconteceu em Pontevedra, com cerca de 60 quilómetros percorridos e mais ou menos 4 horas de viagem. Feito o repasto segui viagem até à próxima localidade, que seria Redondela.

A aproximação a Redondela foi a que mais esforço exigiu, excluindo a aproximação a Ponte de Lima. Existem dois “montes” no perfil de altimetria que obrigam a ir dos quase 0 metros aos 200, de volta aos 0 para subir de seguida aos 210 metros de altitude em cerca de 20 quilómetros, com algumas subidas verdadeiramente “rompe piernas”.

Porriño foi alcançado mais ou menos aos 90 quilómetros. Por facilitar a progressão em bicicleta, optei pelo trajeto tradicional pelo infame Polígono. Constatei, contudo, que há ainda muito peregrino a pé que opta por fazer esse percurso em detrimento da alternativa por bosque que está disponível já há alguns anos. Parece que o esforço dos proprietários de negócio locais para apagar as novas marcações continuam a fazer vítimas.

A viagem seguiu a bom ritmo e por volta das 13h30 cheguei a Tui. Perto da zona histórica conheci um outro bicigrino, completamente carregado com alforges, mochila, etc, que se preparava para seguir viagem até Ponte de Lima.

Próxima paragem: Valença. Já em terras lusitanas, foi altura do segundo reforço alimentar (que é como quem diz a segunda sanduíche e fruta 🙂 ), já com Ponte de Lima em mente, com a longa subida distribuída por ruas de aldeias e pela estrada nacional que sobe a serra.

Com a água já quase no fim, fiz uma paragem em Rubiães, no albergue O Ninho, para atestar a bolsa de água e dar conta dos 40 e muitos quilómetros ate Braga.

Mas toda a subida tem o seu fim e o melhor das subidas é que no final por regra vem sempre uma descida! E no fim desta descida estava um ponto muito especial: Ponte de Lima, onde o terceiro reforço se fez com uma bela taça de gelado que ainda hoje me está na memória pelo bem que soube 🙂

De Ponte de Lima até Braga o percurso do Caminho de Torres tem um relevo relativamente acidentado. É um constante sobe e desce e como nesta altura já tinha 160 quilómetros nas pernas nesse dia, a aproximação a Braga parecia nunca mais acontecer.

Mas aconteceu: eram cerca de 20h20 quando dei as últimas pedaladas do dia mesmo em frente à Sé de Braga, pondo assim um ponto final na longa, cansativa mas muito recompensadora viagem deste ano.

Foi uma enorme honra e um enorme desafio fazer o Caminho deste ano. À data da escrita desta crónica posso dizer que a campanha solidária já ultrapassou o objetivo, pelo que até a esse nível foi um sucesso. E isso não seria possível sem a colaboração de todos os que acreditaram comigo no valor deste projeto. Muito obrigado a todos!

O meu Caminho deste ano terminou, mas de certeza que muitos outros virão. E a todos os que estão no Caminho ou estarão em breve, Bom Caminho!







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