Sexta feira, dia 23 de Junho
E depois de 15 dias a pedalar quase 1100 quilómetros, eis que piso de novo o chão da Praça do Obradoiro!
Com os quilómetros adicionais que fiz ontem de Laxe a Silleda, Santiago ficou a cerca de 42 quilómetros de distância, por sinal bastante familiares pela quantidade de vezes que já os fiz em Caminhos anteriores. Sabia por isso com que contar e aproveitei para descansar um pouco mais do que tem sido o habitual.
Dos Caminhos de Santiago que conheço, a chegada a Santiago pelo Sanabrês não é propriamente a mais impressionante. Nesse aspecto há que dar a mão à palmatória ao Caminho Francês, dado que a subida ao Monte do Gozo ou à entrada pelas escadas onde normalmente está um artista com uma gaita de foles traduz de forma mais emocionante o que é chegar à praça do Obradoiro.
Estes 42 quilómetros são feitos essencialmente por estradas rurais, que são antigos estradões que foram alcatroados. Para quebrar a monotonia somos brindados de vez em quando com um ou outro percurso em terra batida.
Como ponto especial há a destacar o Ponte Ulla, que fica no ponto mais baixo da etapa que fiz hoje e que obriga logo de seguida a fazer uma subida íngreme para recuperar toda a altitude perdida na descida até à ponte. Pior ainda é que os primeiros 100 metros são feitos num caminho de pedra, ao estilo de antiga estrada romana, que obriga a alguma técnica e a ignorar a dor no traseiro de tanto solavanco 🙂
Eram cerca de 10 da manhã quando entrei na Praça do Obradoiro. É sempre uma emoção quando aqui se chega!
Feita a foto da praxe, dirigi-me ao albergue onde já fico no fim dos meus Caminhos desde 2013, o Mundo albergue.
Fui tratar de levantar a minha Compostelana por volta das 13h e eis que encontro na fila dois rapazes andaluzes que conheci no albergue de Laza, na minha primeira paragem no Caminho Sanabrês. Num caminho solitário como o que fiz este ano, ver caras conhecidas é sempre uma alegria 🙂
Facto curioso: por norma costumam estar voluntários junto à fila para ir metendo conversa com os peregrinos e aliviar um pouco a espera. Desta vez coube a um senhor nos seus 60 e muitos anos, australiano, que tinha acabado o Caminho Francês em Abril em 28 dias. Alguém lhe perguntou se era sempre assim (a propósito das filas), ao que ele comentou que há uns dois dias atrás os autocarros não estavam a circular (creio que por alguma greve) e que curiosamente nesses dias, pelas 10 horas, ainda não havia sinal de peregrinos na Oficina do Peregrino. Ora aí uso a expressão dele e digo que é só juntar 2+2…
Por aqui o São João tanbe se celebra ao jeito de Portugal, com sardinha assada e fogo de artifício. Vai ser uma noite complicada para descansar, por cima com a saída de madrugada, mas vou fazer por isso. Por isso boa noite a todos e Bom Caminho!
Ah e se estiverem a fazer o Caminho Central Português e virem um bicigrino com um pássaro no capacete a circular em sentido contrário, digam olá!
Parabéns e Bom Caminho de volta! ?
Agora que revi o texto desta crónica apercebi-me de que um dos efeitos secundários de fazer o Caminho se manifestou: perdi um pouco a noção dos dias :). Dia 23 foi uma sexta feira, não uma quinta feira 🙂