Quinta feira, dia 22
Diz o velho ditado que “não há fome que não dê em fartura”. Pois bem, andava eu a pensar que tinha trazido várias peças de roupa que não chegaram sequer a sair da bolsa onde estão guardadas, quando o tempo médio pregou uma partida.
A rotina da manhã foi a mesma de sempre. Por volta das 5h30 já estava a pedalar, tentando perceber por onde seguem as setas na saída de Chantada.
Já sabia que os primeiros 10 quilómetros iam ser duros. Trata-se da subida até ao Alto do Faro que, felizmente, se resume a estradão e a alguns segmento de piso de betão.
O sol teimou em não aparecer. Em vez disso uma densa névoa invadiu tudo a meu redor, elevando substancialmente a humidade relativa que, como já se está a adivinhar, tornou a subida um pouco mais complicado e muito suada.
Foi a meio desta subida que avistei por fim mais alguns peregrinos. Desta vez eram duas peregrinas da Suécia, uma professora e uma especialista de qualidade alimentar. Por sinal já nos tínhamos cruzado no hotel no dia anterior, mas como nesse momento eu estava na azáfama de enfiar uma bicicleta do meu tamanho, roda 29″, dentro de um minúsculo elevador, não associei que fossem peregrinas.
Acompanhei-as a ritmo lento (o que ate veio a calhar 🙂 ) até alcançar um segmento menos inclinado, onde segui viagem a um ritmo mais intenso.
Cheguei ao topo sensivelmente 1h45 após ter saído de Chantada e foi aí que o tempo fez das suas. A neblina era tanta que prejudicou seriamente a visibilidade. Como a descida era tão inclinada como a subida, isso foi uma preocupação. Além do mais, a densidade da neblina a 30 ou 40km/h depressa se transforma em chuva miúda. Resultado: óculos sem qualquer visibilidade, camisola ensopada em água e 16°C com uma sensação térmica bem inferior a essa temperatura.
Após a descida a neblina pareceu querer dar a vez a uma chuva miúda persistente. Eu já estava cheio de frio, pelo que dei o braço a torcer e vesti o impermeável, que na realidade viria a tirar pouco tempo depois, quando as pequenas, mas constantes subidas exigiram algum esforço.
A 7 quilómetros de Lalin encontrei mais 3 peregrinas que me confidenciaram que estavam a caminhar há bastante tempo sem pequeno almoço. Ainda ofereci do que trazia, mas imagino que barras energéticas não sejam o pequeno almoço ideal 🙂
Cheguei a A Laxe bastante cedo, ainda antes do meio dia. Embora esse fosse o fim de etapa planeado para hoje, na realidade tinha em mente continuar mais um pouco até Silleda ou mesmo Bandeira. Acabei por decidir ficar em Silleda por um lado porque seguir até Bandeira significava ter muito poucos quilómetros para a etapa de amanhã (que, com algum esforço, tê-la-ia feito hoje também) e por outro lado pela primeira vez neste Caminho a bicicleta estava mesmo a precisar de uma lavagem a sério, fruto da lama e da “lama” que apanhei ao longo da etapa de hoje. Eu sabia que o albergue Santa Eulália dispõe de uma zona para lavagem de bicicletas e como é um albergue super confortável e acessível, essa foi a minha opção para hoje.
E pronto, com isto resumo a véspera da chegada a Santiago. O Caminho até lá já me é muito familiar (de bicicleta é à terceira vez que passo no Caminho Sanabrês, a que se junta o meu primeiro Caminho a pé), mas a emoção a antever a chegada à praça do Obradoiro já começa a ganhar forma.
Bom Caminho!
Está quase 🙂 Bom caminho 🙂