Etapa 4 – sempre a rolar

Colocado em 9 de Junho, 2018 | 0 comentários

E eis que ao quarto dia surge finalmente a clássica crónica diária.

Os dias anteriores não foram fáceis… As etapas em si foram relativamente duras (já descrevi por várias vezes as poucas condições para bicicleta de partes do percurso), mas a falta de treino adequado levou a uma resposta do corpo com a qual não contava e só ontem consegui perceber que estava a estabilizar. Mas mais sobre isso há-de ser dito nas crónicas já devidas.

Quanto a hoje, a saída de Granada já foi feita um pouco fora da hora planeada. A ideia é que a primeira pedalada aconteça às 7h da manhã, mas tem sido difícil cumprir esse critério :).

De qualquer modo às 7h estava já sentado a uma mesa a tomar um belo pequeno almoço :). A estadia da noite passada foi na Hospedería de las Comendadoras de Santiago, ou seja, numa espécie de convento de freiras que, pela redução do número de freiras residentes, levou a decidirem disponibilizar alguns quartos para visitantes de Granada. Curiosamente no pátio da frente está um marco do Caminho de Santiago que marca o quilómetro 200.

Na parte que me diz respeito esteve tudo bem. As Irmãs são muito prestáveis e simpáticas à sua maneira (penso que não devem sair muito do convento, a julgar pela sua forma de interagir). O quarto é impecável, com WC privado e por um valor de 20€ já com o pequeno almoço incluído.

Contudo, confesso que me senti defraudado num pequeno pormenor: durante a manhã cruzei-me com um caminheiro que por acaso é um elemento da associação do Caminho Mozárabe e que me confirmou aquilo que já tinha lido: que as freiras serviam jantar (pago, claro) e que se comia muito bem. A verdade é que fosse lá o que estivessem a cozinhar, cheirava a delicioso (penso que um caril de alguma coisa, o que faz sentido a julgar pela proveniência das Irmãs), mas quando perguntei pelo jantar levei um redondo NÃO 🙂

Lá acabei por encontrar um pequeno restaurante de comida italiana caseira que dois nativos de Itália gerem: Cacho & Pepe. É um restaurante de take away que só tem duas pequenas mesas disponíveis (e que por norma estão ocupadas), mas tive a sorte de finalmente jantar um prato de faca e garfo bem delicioso 🙂

Ora regressando ao dia de hoje, os primeiros 10 quilómetros são feitos em alcatrão ainda dentro do perímetro da cidade. Nota-se que é uma cidade grande e movimentada, dada a azáfama num sábado de manhã.

Aos 12 quilómetros deparei-me com uma ambiguidade de marcações: no meu track era suposto seguir pela esquerda num entroncamento, mas as setas apontavam para a direita. Noto contudo que há marcações de Santiago na direção do meu track, pelo que mantenho-me fiel a ele.

Essa direção levou-me a passar por uma urbanização megalómana que me parece ter ficado pelo caminho… Varios bairros ao abandono e máquinas de construção ainda presentes, mas claramente paradas há bastante tempo.

O aspeto degradado não era lá muito confortável, pelo que pedalei depressa dali para fora seguindo o Caminho.

Os trilhos de hoje foram um autêntico carrocel de sobe e desce. Ao contrário dos dias anteriores, hoje pude usufruir de trilhos cicláveis que, no geral eram estradões de acesso aos imensos olivais que há por cá.

Claro que a estrela do dia foi a subida a Moclin. O gráfico de altimetria altimetria não deixava grande dúvida: ia ser uma grande sova. A subida é tão íngreme e extensa que só mesmo as pernas mais fortes conseguem dar conta do recado. Eu tive de dar a mão à palmatória e apreciar bem a subida… a pé 🙂 e acreditem que mesmo assim houve alturas em que pensei que ia resvalar caminho abaixo.

Em Moclin, depois de tamanha subida, foi a altura certa para um lanche da manhã tardio ou um almoço antecipado: compras feitas na mercearia do local e barriguinha refastelada 🙂

Já não me recordo bem, mas creio que é após Moclin que o Caminho não está muito claro: começa num estradão mas a dada altura diverge para a esquerda num trilho que de tanta vegetação que tem, nem se distingue bem. Eu só dei por ela uns 30 ou 40 metros depois e como era a descer, resolvi atalhar pelo meio do olival até dar novamente com aquilo que seria o trilho.

O dia de hoje foi também pautado por alguma estrada e ao contrário de, por exemplo, ontem, hoje tive de fazer alguns quilo numa estrada nacional principal com algum tráfego.

Foi também dia de estradões que designo carinhosamente por “rompe culos” :). São estradões pejados de pedras de 4 a 8 cm de diâmetro cravadas no piso e que se fazem sentir muito bem no traseiro. Aliás, pedra é mesmo a palavra de ordem, ou incrustadas assim, ou então cascalho e pedra solta, que obrigam a cuidados redobrados.

Quando cheguei a Alcalá la Real vi muita animação. A cidade deve estar em festa e as barracas, os carrinhos de choque, enfim, todo o ramalhete de festa estava montado. E não sei se é trivial ou se é alguma época especial, mas vi vários pais diferentes a acompanhar as respetivas filhas adolescentes vestidas com as vestes típicas de Andaluzia (as “sevilhanas”).

Por aqui ainda tentei comprar um pneu novo para substituir o de trás (que hoje já teve direito a um novo remendo de fita, dado que ganhou outro pequeno rasgo que embora ainda não se veja por dentro, também não dá grande confiança de não degenerar para tal). Pesquisa rápida no Google e como eram 13h40 ainda estava a tempo de encontrar alguma antes da hora típica de fecho: bati com o nariz na porta das duas lojas que tentei, uma porque passou a estar fechada ao sábado e a outra porque desapareceu sem deixar vestígios.

Por isso o pneu continua cá e suspeito que ou compro na Amazon com entrega num próximo albergue, ou vou ter o estimar muito bem para chegar ao fim.

A chegada a Alcaudete deu-se por volta das 16h. Dirijo-me ao pavilhão municipal e não vejo sinal de haver gente. Contacto a polícia (número de referência) e também não me conseguem ajudar.

Enquanto espero aproveitei para fazer alguma manutenção na bicicleta e é então que me apercebo que a receção do pavilhão / campo de futebol já tinha gente. Apressei-me a ir lá e rapidamente fui instalado na suite cá do sítio: um balnear do pavilhão 🙂

E titans o jantar (delicioso, segui uma recomendação do TripAdvisor que não desiludiu.

Podem ver mais fotos da etapa de hoje na página do Facebook www.facebook.com/rumoasantiago

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