Etapa 15 – No país das (verdejantes) maravilhas

Colocado em 20 de Junho, 2018 | 0 comentários

O dia da etapa (talvez) mais complicada chegou. O dia estava destinado a começar logo em grande, com a subida até Padornelo (o ponto mais alto do Caminho Sanabrês).

Saí do albergue por volta das 7h20. A peregrina francesa que também ficou no albergue (e com quem tive uma agradável conversa no serão) já tinha partido há algum tempo.

O percurso começa logo em estrada. Os primeiros metros são feitos dentro da localidade, mas dado que o albergue está deslocado da povoação e o percurso iria unir-se à estrada nacional em pouco tempo, deixei-me ir pela nacional.

Os primeiros 9 quilómetros foram relativamente penosos, sempre a subir. Uma boa parte do Caminho passa agora oficialmente na estrada nacional, dado que as obras da linha de alta velocidade condicionam atualmente o trajeto.

Sensivelmente a meio da subida o percurso sai da N-525 e segue por aquilo que devia ser a antiga estrada antes da moderna nacional, a julgar pelos vestígios de asfalto.

Foi nesta antiga estrada que reencontrei a peregrina francesa, que depois de uma foto à minha mascote (o meu corre caminos 🙂 ) nos despedimos e segui viagem.

A ritmo simples lá fui ganhando terreno até que finalmente cheguei a Padornelo. Primeira parede feita!

O Caminho segue novamente por alcatrão, mas agora a descer. Após passar Padornelo e uma estação de serviço que partilha o espaço com um pequeno hotel, o Caminho segue pela esquerda por um “desvio temporário” que muito sinceramente acho que se mantém desde 2012. Esse desvio leva-nos por um caminho que a dada altura entra numa propriedade privada com uma vedação elétrica que se estende à própria entrada da propriedade (tem uma pequena pega em plástico para poder ser aberta).

Eu decidi seguir pelo caminho antigo, sabendo que teria de seguir sempre por estrada até Lubian pois as partes por terra estão na zona de obras. Para meu espanto encontrei 2 ou 3 peregrinos que optaram também por essa via, tendo assim de caminhar por alcatrão. Está tudo ao contrário neste Caminho 🙂

Cheguei entretanto a Lubian. A seguir a esta aldeia vem a famosa subida ao alto de A Canda. Aqui tinha duas hipóteses: seguir pelo trilho pedestre, que é mais direto mas simplesmente não é ciclável, ou então seguir pelo trajeto de bicicletas, que dá uma volta enorme a norte em alcatrão. Como eu já tinha feito a subida pelo trilho pedestre pelo menos 3 vezes diferentes (duas com bicicleta e uma a pé numa aventura de autonomia total que fiz em 2017 pela Serra de Montesinho), desta vez optei pela via de bicicletas. Outra subida que parecia que nunca mais tinha fim!

Mas o que vale é que tudo o que sobe, desce e quando alcancei o alto de A Canda sabia que tinha à minha espera um trilho divertido.

Um pouco antes de A Vilavella o Caminho torna-se complicado para as duas rodas: no meio do trilho já por si só estreito estão umas longas pedras por onde se circula e onde não é fácil rolar. E um pouco mais à frente o cenário não melhora: o piso é composto por tubos de cimento colocados transversalmente ao longo do caminho e que dão direito a um belo abanão em tudo o que há para abanar.

Depois de Vilavella surge um trilho fantástico, embora muito duro. É um trilho sem grandes sombras, com muita pedra (nalguns lugares obriga até a desmontar para atravessar pontes improvisadas e também grandes rochedos). Aí estamos bastante afastados de tudo e a paisagem é muito interessante.

Pausa em A Gudiña para comer antes das últimas subidas do dia. Fiz umas pequenas compras numa lojinha e procurei a melhor sombra no final da localidade. No respetivo banco já estava um senhor de idade a quem pedi para partilhar o banco. Enquanto eu comia ele lá foi falando da sua vida, dizendo-me que já tinha sido presidente da junta de um lugar cujo nome nunca cheguei a entender e deu-me alguns conselhos sobre o Caminho que se seguia.

Barriga cheia e hoje com direito a gelado, lá continuei viagem. Pelo percurso de alcatrão encontrei um outro bicigrino que está a fazer o Caminho mas maioritariamente por estrada. Mal sabe ele o que já perdeu hoje no trajeto pelo Caminho, pois esta etapa é daquelas que tem as mais belas paisagens do Sanabrês.

Havia ainda que fazer duas fantásticas descidas: a que chega a Campobecerros e a que termina praticamente em Laza. Mesmo com a cautela adicional que se impõe por estar a fazer o Caminho sozinho e o facto de levar um saco de guiador com algum peso não impediram que terminasse o dia com um belo e grande sorriso de orelha a orelha 🙂

Para quem não conhece, a descida até Campobecerros é uma descida técnica cheia de xisto, bastante inclinada e relativamente sinuosa. Se para quem caminha estas não são propriamente as caraterísticas ideais de um trilho, para quem gosta de BTT como eu é a melhor recompensa possível pelas subidas que já fiz.

Já a descida até Laza (que se divide em dois segmentos, um por terra batida e outro no final por asfalto), é um outro delírio. Aqui já não temos um trilho tão técnico, mas sim uma descida de uns 7 quilómetros bastante rápida e que atravessa um pinhal. A adrenalina da velocidade e o perfume a resina são uma mistura perfeita!

Cheguei finalmente a Laza. O registo no albergue é feito na proteção civil, que se encarregam de nos dar uns lençóis descartáveis e as chaves do albergue e do quarto (o albergue está dividido em vários quartos). É um albergue do Xacobeo de 2010, pelo que as condições são ímpares. Partilho o quarto com dois (muito) amigos reformados eslovenos (um senhor e uma senhora), sendo que nos outros quartos temos mais algumas nacionalidades (penso que alemães e holandeses).

Amanhã será a penúltima etapa antes de chegar a Santiago. O plano para já é chegar a Cea, mas como lá o albergue é municipal e pelo meio está Ourense (de onde decerto partirão uns quantos peregrinos que se propõem fazer a distância mínima para obter a Compostela), não sei como estará de disponibilidade. Depois logo se vê 🙂

O tempo é que parece estar a virar. A previsão é de alguma chuva de trovoada para amanhã ao final das tarde, mas apesar de isso fazer parte da Galiza, já agora calhava nem terminar este Caminho sem precisar do impermeável. Se virem o São Pedro, passem por favor o recado 🙂

Bom Caminho!

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