Etapa 11 – as três colinas

Colocado em 16 de Junho, 2018 | 0 comentários

Aldeanueva del Camino – Salamanca

Os trilhos relativamente planos que têm pautado a Via de la Plata desde Mérida fizeram hoje uma pequena pausa. Já era certo que ia subir durante praticamente todo o dia, pelo que o ritmo hoje começou em modo conservador.

A etapa começa em alcatrão, subindo a estrada logo a seguir a Aldeanueva. A meio dessa subida o Caminho segue por um trilho mesmo junto à estrada, muito pouco (ou nada) ciclável, pelo que a opção continuou a ser por alcatrão até que o trilho divergisse.

Essa divergência surge entretanto numa autêntica tampa de calçada de pedra, salvo erro em Baños de Montemayor. Seriam uns bons 3 ou 4 quilómetros até chegar ao topo da colina, para depois descer tudo novamente.

Começou a preparar-se mais alguma subida, desta feita não tão prolongada e que nos leva até Calzada de Bejar.

O terreno dá agora tempo para recompor as pernas, num percurso mais plano. Daqui para a frente a Via de la Plata partilha o percurso numa boa parte com a rota Eurovélo 1, uma das rotas europeias de cicloturismo que têm sido muito divulgadas nos últimos tempos.

A próxima localidade mais conhecida seria Valdelacasa, no cimo da segunda colina considerável do dia.

Passados uns quilómetros cheguei a Fuenterroble de Salvatierra, onde existe um albergue municipal. Parei por aí para fazer um almoço mais vespertino, parando no último bar da aldeia. Por lá estava um ciclista que, muito embora não estivesse a fazer o Caminho, pretendia seguir por ele até Salamanca e depois regressar a casa em Bejar.

Seguiram-se então 7 ou 8 quilómetros de descida tendencial, por trilhos entre caminhos acidentados e single tracks verdejantes, até que a terceira (e grande) colina chegou. Trata-se da subida que carateriza esta etapa e que nos leva ao longo de pouco mais de 3 quilómetros por trilhos pejados de pedras grandes soltas, em piso muito íngreme que no meu caso obrigou a apear durante quase toda a sua extensão. Lá no cimo está um parque eólico que denuncia claramente o quão alto se chega.

O maior desafio desta última colina não foi tanto a inclinação (feita apeado é relativamente pacífica), mas sim as moscas que são do mais chato que pode haver! Rondam-nos em enxame, pousam descaradamente e não há forma de as sacudir para longe. Foi realmente exasperante.

Como tudo o que sobe desce, quando alcancei o topo foi altura de alguma diversão. Aí encontrei o ciclista que havia visto há bastantes quilómetros atrás. Aparentemente ele não fez bem as contas ao esforço que este Caminho envolve, nem tão pouco à tecnicidade da descida, onde teve de apear.

Voltaria a encontrá-lo mais tarde, nas longas retas que sucedem à descida, onde decidi aguardar por ele para lhe dar algum ânimo e orientação até Salamanca, pois pareceu-me que ia precisar.

Divergi ligeiramente do Caminho um pouco antes de chegar a San Pedro de los Rosados, dado que o Caminho segue por um trilho muito estreito onde a erva tem facilmente 1.2 metros de altura, o que dificultaria bastante a progressão na bicicleta.

Cheguei a Morille bastante cedo (creio que nem 14h eram). Esse era o meu destino do dia e tudo pareceu encaixar-se nos meus critérios ideais para fim de etapa: localidade pequena, sítio onde comer, albergue jeitoso. Contudo, atendendo à hora e às forças que ainda não vacilavam, decidi continuar até Salamanca.

Essa última parte é trivial. Largos estradões e boas descidas são praticamente descanso quando comparado com o resto do percurso.

Em Salamanca ainda ponderei seguir por mais 17 quilómetros até à próxima povoação com albergue aceitável (Calzada de Valdeunciel), mas não só suspeitei que pudesse estar cheio, como o facto de que aparentemente as bicicletas ficam no exterior também ajudou a decidir ficar por Salamanca. Confesso que não foi a decisão que mais me agradou, já que depois de uma etapa de 95 quilómetros impõe-se descansar e acabo por não ter oportunidade de aproveitar o que a cidade tem para oferecer.

De qualquer modo com estes 20 quilómetros adicionais serão deduzidos na etapa de amanhã. O destino é Zamora, onde o albergue municipal é um dos albergues públicos mais catitas da Via de la Plata. Já lá fiquei duas vezes diferentes (em 2012 e 2016) e em ambas as ocasiões a experiência com as instalações e os hospitaleiros foi excelente.

Gostaria de conseguir avançar um pouco mais para tentar reajustar as etapas seguintes, mas o único destino aceitável (pelas condições dos albergues) seria Tabara, que fica a 70 quilómetros de Zamora. Por mais fácil que seja o percurso daqui a Zamora, não estou a ver esses 70 quilómetros a acontecer, pelo que daqui em diante o mais provável é respeitar as etapas que tinha previstas.

Bom Caminho!

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