Etapa 9 – dia de ir à quinta

Colocado em 14 de Junho, 2018 | 0 comentários

E quase sem dar por isso, hoje cheguei a metade do meu Caminho (em etapas, porque em distância creio que já terei passado essa marca).

Tal como tinha combinado no dia anterior com o Marco (o peregrino alemão), o despertar foi às 5h30. A intenção era aproveitar a primeira hora de luz para conseguir antecipar um pouco a chegada ao destino de hoje, evitando assim o calor mais intenso que já se começa a sentir a partir das 14h.

A etapa começou tendencialmente a subir, mas sem um declive muito acentuado. Além disso, uma das características da Via de la Plata nesta zona é que os estradões e caminhos que a compõem têm o piso tão batido que quase parece betão de tão liso que está. É por isso muito fácil rolar aqui.

O ritual de abrir e fechar portões ao longo das várias quintas por onde passa o Caminho já era uma memória longínqua de 2012, quando fiz a Via de la Plata pela primeira vez. Acaba por ter a sua piada, apesar de que entrar numa quinta nesta zona significa que a probabilidade de dar de caras com algum animal de grande porte é bastante elevada.

E assim foi: por diversas vezes dei comigo no mesmo lado da cerca onde estava gado bovino. Até aí tudo bem, porque me parece que este gado já está mais do que habituado a ver gente a passar. O receio instalou-se quando à minha frente um javali atravessou o caminho onde eu estava a circular. Sabendo que não são propriamente animais dóceis, fiz figas para não avistar mais nenhum.

Alcuescar coincide com o fim da primeira subida (na realidade fica já na descida). Os próximos quilómetros foram por isso leves e fáceis de transpor, sempre a rolar.

Tive um ou outro episódio caricato neste dia, nomeadamente um bloqueio ovino 🙂 e mais tarde um retiro de descanso de um rebanho de ovelhas. São episódios simples mas que na rotina diária por aqui têm a sua piada.

A passagem por Cáceres foi muito rápida. Não entrei no centro da cidade e rapidamente dei por mim já a caminho de Casar de Cáceres.

Os primeiros quilómetros a seguir a Cáceres a dada altura levam a crer que o Caminho todo até Casar de Cáceres é feito por estrada, mas rapidamente o Caminho diverge para a esquerda por caminho de terra.

A paisagem por estas bandas é relativamente austera, mas tem uma beleza muito própria e que aprecio bastante. Creio que o facto de os trilhos terem muitas semelhanças com os de Castelo Branco (a cidade onde vivi até à minha adolescência e na qual fiz muitos quilómetros em BTT já enquanto adulto) contribui bastante para a minha predileção por este Caminho.

A uns 8 quilómetros do albergue da barragem de Alcântara o track gps manda ir pela estrada. No entanto as marcações sugerem seguir um single track técnico e de constante sobe e desce. Eu estava com tempo de folga e aproveitei uns bons minutos de diversão até alcançar o alcatrão seguindo as marcações.

Mais uma vez estou num albergue quase por minha conta. Para além de mim está apenas um outro peregrino com o qual não tive oportunidade de falar.

Fui recebido por um rapaz que toma conta de tudo no albergue. Apesar de novinho, era capaz de dar umas boas lições de como receber um peregrino num albergue. Extremamente simpático e atencioso, não se podia pedir mais.

O dia não acabou sem uma visita muito especial: dada a relativa proximidade da barragem com Castelo Branco, os meus pais decidiram passar por aqui e jantar comigo. É sempre agradável ter os nossos assim por perto!

Amanhã será um novo dia e com outros desafios. A altimetria vai mudar um pouco com a aproximação à Serra de Bejar. Por isso a estratégia de acordar cedo é para manter!

Bom Caminho!

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