A etapa de hoje foi, à falta de outra expressão para a descrever, uma divertida aventura. Como já tínhamos comprado os víveres para o pequeno almoço no dia anterior, tratámos de o tomar no próprio albergue. O único senão foi que, para além de termos feito as compras com fome, o senhor do talho que nos cortou o presunto excedeu-se um bocado na dose que nos serviu. Consequentemente, a quantidade de comida, incluindo a fruta, era mais do que o necessário para um pequeno almoço. Ficámos assim com o lanche do meio da manhã já preparado, ao dividir a comida por esse lanche e o pequeno almoço :). Uma a parte da etapa de hoje passa junto de umas mega construções da linha espanhola do comboio e alta velocidade. Por isso tivemos de fazer uma série de desvios para contornar algumas das escavações ou construção de fundações desta obra. O Frazão, pela profissão que desempenha (está integrado numa equipa militar de engenharia) passou uns quantos quilómetros entusiasmado com as obras em curso e as imponentes máquinas a trabalhar. O percurso levou-nos também a perto do “nosso” rio Tejo. Parte desse troço foi feito serpenteando por um fantástico trilho técnico em descida, onde pudemos não só divertir-nos um pouco, mas também explorar o grande potencial das Spark 20 para descer. O momento inesquecível do dia chegou perto das 11h30, quando nos deparámos com uma manada de vacas negras no meio do nosso trilho. Ficámos um pouco intimidados com este cenário, não só pela quantidade de cabeças (devidamente ornamentadas com chifres pontiagudos), mas também com o único boi da manada, que exibia um imponente físico capaz de derrubar um automóvel, quanto mais um ciclista. Após algumas aproximações lentas à manada, na expectativa de passar por ela despercebidos, o Frazão ficou alertado quando uma das vacas começou a raspar o chão com uma das patas. Mais tarde percebemos empiricamente que se trata de um comportamento normal quando o animal sente que tem de se aliviar, mas na altura pareceu-nos a preparação para uma investida :). Como rolámos sempre a bom ritmo, só parámos na aldeia de Grimaldo. Esta aldeia está desprovida de qualquer mini mercado, mas resolvemos o nosso almoço no aparente único restaurante da aldeia comprando os ingredientes habituais do nosso almoço: pão, fiambre, tomate, fruta e bebida fresca. A igreja da aldeia tem mesmo ao lado um agradável parque de merendas que, no entanto, aparenta ser pouco frequentado. Rapidamente preparámos a nossa refeição com os nossos Leatherman a trabalhar em paralelo. Seguiu-se cerca de 1 hora de descanso e seguimos viagem. A continuação dos trilhos levou-nos novamente por uma imensidão de portões. A diferença é que desta vez ao invés de animais da quinta, fomos surpreendidos por… gazelas e veados! Embora um pouco furtivos, pudemos avistar uns quantos. A cerca de 11 quilómetros de Galisteo deparámo-nos com um desvio considerável da rota traçada no GPS, por um percurso que, a julgar pela pintura das setas amarelas, é muito recente. Soubemos mais tarde que se trata da zona do percurso em que a cooperação de um dos proprietários de um terreno não é das melhores. Chegámos a Galisteo por vezes volta das 17h e encontrámos à nossa espera um albergue muito confortável e bem equipado. Para além de nós, estamos a partilhar o albergue com um peregrino originário do norte de Espanha e um escocês. Sendo ambos pessoas com experiências muito interessantes, conversámos um pouco ao jantar. Tivemos também a oportunidade de aprender uma técnica de alongamentos das coxas com base em exercícios de ioga. Conhecemos um pouco da vila (que está quase toda dentro de muralhas) e fomos finalmente descansar. Com a etapa de amanhã nem que precisamos de um descanso! Ainda não temos fotos para vocês, mas cremos que em dois dias poderemos compensar-vos por esta ausência!

Bom Caminho!

2 Comentários

  1. Esse trilho à beira Tejo é fantástico, e se não me falha a memória termina em Cañaveral, onde já fiquei num refúgio. Galisteo é muito giro.

    Saudades…

    Buen Camino!

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